Em setembro, mês dedicado à prevenção do suicídio, o Departamento de Saúde Mental (DSM) da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste participou, a convite da Associação Académica do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), na receção ao caloiro, falando acerca de mitos e factos sobre o suicídio.
Estiveram presentes nesta iniciativa a Dra. Raquel Moreira, a Dra. Helena João Gomes e a Dra. Joana Raposo Gomes.
A prevenção do suicídio continua a ser uma das áreas fortes de intervenção deste Departamento, o qual se juntou, desde o ano passado, à rede de parceiros da iniciativa prevenirsuicidio.pt.
O suicídio é um problema multifacetado e que diz respeito a todas as pessoas, desde os profissionais de saúde, às forças de segurança, aos políticos, à comunidade em geral. Por ser um fenómeno tão complexo e ainda envolto em múltiplos mitos, deve ser tratado com seriedade, mas não com receio ou secretismo. Por este motivo, sentimos que é necessário que, localmente, nos empenhemos na transmissão de mensagens claras, fruto da investigação científica.
Identificar precocemente
O suicídio deve ser encarado como prevenível mas, para isso, é fundamental identificar atempadamente pessoas em risco e intervir.
Segundo os dados mais recentes da Organização Mundial de Saúde (2016), existem cerca de 800.000 suicídios por ano em todo o mundo, o que corresponde a uma morte por suicídio a cada 40 segundos. O número de tentativas de suicídio — importante fator preditor de suicídio — poderá ser até 30 vezes superior ao número de mortes por suicídio.
Em Portugal, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), em 2018, a taxa de mortalidade por suicídio foi de 9,7 óbitos por 100.000 habitantes. No que diz respeito ao sexo, foi de 15,2/100.000 no sexo masculino e 4,8/100.000 no sexo feminino. A taxa de suicídio aumenta com a idade, sendo a taxa bruta para o grupo entre os 75 e 84 anos a mais elevada (24/100.000).
Identificar e tratar as doenças mentais precocemente é fundamental na prevenção do suicídio. Mais de 90 por cento das pessoas que morrem por suicídio tinham uma doença mental e destas 60 por cento tinham uma doença afetiva, na maioria dos casos depressão.
É natural que todas as pessoas se sintam em baixo e tristes, de tempos a tempos. No entanto, quando o humor é persistentemente triste e existe uma franca interferência no bem-estar e no dia-a-dia da pessoa, pode corresponder a um diagnóstico de depressão. A depressão é uma doença psiquiátrica com tratamento e que deve ser identificada precocemente.
O tratamento deve ser individualizado e muitas vezes contempla o recurso combinado a estratégias não-farmacológicas e farmacológicas.
Alguns dos sinais e sintomas mais comuns de depressão são:
- Sentir-se triste durante a maior parte do dia;
- Perder o interesse por atividades que normalmente lhe dão prazer;
- Perder ou ganhar peso sem estar a fazer dieta;
- Dormir demasiado ou dormir menos do que o habitual e acordar muito cedo;
- Sentir-se cansado o tempo todo;
- Sentir-se inútil, com sentimentos de culpa e sem esperança no futuro;
- Sentir-se irritado;
- Ter dificuldade em concentrar-se, em tomar decisões ou em lembrar-se das coisas;
- Ter pensamentos frequentes de morte e suicídio.
Falar de suicídio é, por si mesmo, um elemento anti-estigma, que se opõe à visão de que existe algo de vergonhoso na doença mental ou na procura de tratamento.
Entrada na Universidade
A entrada na universidade é um momento de grandes mudanças para os jovens. Abre-se um novo mundo, muitas vezes cheio de novidade, oportunidade de desenvolvimento e alegria. No entanto, pode ser uma altura de maior ansiedade, com a de mudança de cidade, de país, de redes de referência – amigos ou familiares, de reconstrução da rede social, de maior pressão académica, de dificuldades económicas, de alguns excessos. Pode, portanto, ser uma altura de maior vulnerabilidade para a saúde mental.
O sentimento de pertença, a participação na vida académia, o estreitamento de laços com a comunidade brigantina e com as suas instituições, a participação nas atividades culturais da cidade, a produção cultural individual ou em grupo, o desenvolvimento de um propósito pessoal, o cultivo das amizades, “n’A Terra dos Amigos para Sempre”, são elementos promotores de saúde mental e para os quais chamamos especial atenção.
Reconhecer nos pares uma situação de risco, saber a quem se dirigir ou onde entrar em contacto com os serviços de saúde, pode ajudar a evitar uma morte por suicídio.
Enquanto Departamento de Saúde Mental, queremos manter-nos disponíveis para criar esperança, para intervir e para continuar a desenvolver a nossa capacidade de estarmos próximos da comunidade, uma vez que a acessibilidade aos cuidados de saúde é, também ela, um fator protetor de suicídio.